Durante a gestação imaginei mil mudanças no meu corpo. Comecei a visualizar os meus pés inchados, o meu corpo disforme e gigante, o meu rosto coberto de manchas. Fiquei em pânico.
A maior parte das mulheres que conheço que são mães e estão acima do peso culpam os seus filhos pelo sucedido. Fiquei com medo: Será que minha barriga vai ficar grande para sempre?
Quando dei por mim, apenas a minha barriguinha de grávida se foi revelando. O meu corpo respondeu aos apelos da gravidez mudando a anatomia de acordo com as necessidades básicas do bebê mas nada de mais ocorreu. O meu peso aumentou apenas o necessário para o meu bebê ser saudável. No nono mês de gravidez, eu estava 10 quilos acima do meu peso habitual. As minhas ancas estavam diferentes, ligeiramente deslocadas e arredondadas (algo que só eu mesma notei), o meu peito aumentou consideravelmente cerca de 3 números acima.
Muitas vezes tive de brigar nas filas prioritárias no Banco e em outras instituições do gênero.
As pessoas imaginam uma mulher grávida gigantesca caminhando bem devagar, bem inchada, de vestidinho à mamã, e de preferência com um sorriso maternal no rosto rosado. Eu nem por isso. Usei jeans até ao nono mês e mantive a expressão firme e um pensamento frenético. No mercado as senhoras idosas nas caixas preferenciais me olhavam indignadas e muitas vezes comentavam entre dentes que eu estava a dar o golpe na fila preferencial.
Quando já não dava para não ser notado, bem no final da gravidez, no metrô ou no ônibus, as pessoas olhavam minha barriga e fingiam não ter reparado e voltavam o rosto ou fingiam estar dormindo, só para não ceder o lugar. Isso sem referir que alguns transportes públicos não cumprem a lei de separar alguns lugares para Gestantes, Idosos e pessoas portadoras de deficiência.
Beber água e caminhar
Sempre me preocupei em beber água, mas agora como teria de pensar por dois, me policiei de modo a beber o máximo de líquido possível para manter os nossos corpos hidratados: muita água, muito suco, muito leite e muita água de côco. Impossibilitada de correr, atividade que sempre me deu prazer, me dediquei à caminhada pois me haviam alertado que o parto é mais fácil se o corpo da mãe estiver preparado, bem exercitado e com tônus muscular. Caminhei com o apoio do meu marido. Havia dias em que caminhávamos cerca de duas horas à noite. Quando me sentia cansada parava e descansava. Caminhava sem ter obrigação de o fazer, de cumprir aquela tarefa...mas com prazer, respeitando o limite do meu corpo. Quando regressava a casa estirava as pernas para cima para descansar e ajudar a circulação sanguínea. Me lembrava que na minha família, por hereditariedade, todas as mães ganharam varizes durante o período de gestação.
No dia em que descobrimos que estava grávida, comprei um creme hidratante específico para o corpo de gestante. Para hidratar diariamente os locais que iriam sofrer transformação e evitar o aparecimento de estrias. Inicialmente usei o Creme Gordo, depois o Materskin, que tem cheirinho de bebê. Descobri depois que existe um creme especificamente para seios de gestante e com variante para lactante, o creme Massê.
Meu médico me prescreveu que tomasse ferro logo no início, depois cerca do quinto mês acrescentou o magnésio e no sétimo um complemento vitamínico.
A minha alimentação mudou também, comecei a desejar comer carnes, sucos e muitas frutas. Enjoei de chá, ainda hoje não consigo tomar essa bebida que me acompanhou diariamente por toda a vida.
Não usei mais descolorante corporal ou qualquer química no cabelo que o corpo pudesse absorver e fosse prejudicial ao meu rebento. Evitei o contacto com qualquer química: detergentes, tintas, tanto ao nível do tato como ao nível do cheiro.
Limitei o consumo de café ao meio cafezinho por dia e também deixei de tomar aquele vinho romântico.
Os pontapés e a posição de nascer
A minha bebê nasceu com 38 semanas, seis semanas antes, ela virou. Nesse dia passei a noite a trabalhar, sentia-me cansada mas com vontade de finalizar o projeto, teria de o entregar na manhã seguinte. A bebê trabalhou comigo. Comecei a ter umas dores estranhas. A minha barriga balbuciava com vida própria, conseguia quase ver o corpinho da bebé de um lado para o outro desenhando a minha barriga.
A sensação era familiar, ela mexia como já fazia desde os primeiros meses mas agora como se fosse um pequeno tourinho. Eu havia engolido um touro bebê que empurrava todos os meus órgãos para ter espaço para se espreguiçar.
Após esta reviravolta vi claramente na ultra-sonografia que a pequenina estava virada. Entretanto as batidas da minha bebê ficaramdiferentes, ela ficou ágil e eu conseguia quase saber quando era umpontapé ou uma cabeçada.
Trabalhei até ao final da gestação, o que não é recomendado. Estávamos no início do mês, o parto estava previsto para o final. Trabalhei até tarde no sábado e no domingo, comecei a ter contrações na segunda de manhã.
O meu marido acompanhou todo o processo da gravidez quase tão profundamente como eu, se eu tinha desejos, ele também tinha. Acompanhou cada consulta e cada ultra-sonografia. Todos os dias conversávamos com a nossa bebê, o meu marido não se cansava de cantarolar junto da minha barriga. Fizemos pesquisa sobre bebês, sobre parto natural, sobre psicologia infantil. Ambos estávamos preparados para dar à luz teoricamente.
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